Fundado no século X, Arouca começou por ser um mosteiro dúplice, ou seja, uma casa de homens e mulheres, antes que, em meados do séc. XII, se tivesse tornado um convento feminino da ordem de S. Bento. O rei D. Sancho I doou-o à sua filha Dona Mafalda. Materialmente, foram muitas as dádivas do seu erário que transitaram para o domínio do convento e terá sido por sua vontade que a comunidade monástica passou à regra de Cister em 1226. Das instalações monásticas medievais ficaram pouquíssimos vestígios. Duas prolongadas campanhas de obras relativamente recentes, entre os séculos XVII e XVIII, que tiveram por fim a renovação completa do mosteiro, deram ao conjunto de Arouca a forma que ainda se mantém.O terreiro, hoje chamado da rainha Dona Mafalda, não era de acesso público. Pertencia ao mosteiro, só entravam visitantes autorizados e servidores das freiras, estava separado da rua por um muro com portal. A poente, situava-se a residência dos padres que serviam o mosteiro (hoje Biblioteca Municipal). O corpo virado ao terreiro (onde hoje se localiza o acesso ao Museu) servia as funções públicas do mosteiro que tinham uma certa reserva. Dão para aí, em primeiro lugar, as duas torres – mirante de onde as freiras dominavam as vistas. Depois abrem para o terreiro os locutórios em que as freiras recebiam familiares. São dez, cada um com a sua grade e a sua roda. Trata-se de um número e de uma localização extraordinários, só explicáveis devido à origem aristocrática e ao poder das freiras de Arouca. Este corpo alberga também a portaria principal do mosteiro e ainda a porta “do mato” (noutros mosteiros chamada “do carro”, ou seja, de serviço). O lado norte é o da Igreja dos leigos e do Coro. Coro e Igreja distinguem-se bem da rua, para onde dá a porta pública, assomando por sobre a fachada conventual corrida e ritmada a pilastras e janelas. O arquitecto foi o maltês Carlo Gimac. O Coro é baixo e separado da nave por um arco e uma “ponte”, como em dois outros mosteiros cistercienses femininos portugueses, Lorvão e Cós. Correndo por dentro das paredes da igreja pública há galerias que permitiam a algumas freiras aproximarem-se da capela-mor para a celebração eucarística sem serem vistas pelos leigos. São notáveis as imagens de pedra de Ançã da Igreja e do Coro, esculpidas por Jacinto Vieira e o cadeiral dos entalhadores portuenses António Gomes e Filipe da Silva, obras de cerca de 1725. Uns anos mais tarde, por volta de 1741, estava concluída a montagem do novo órgão, na separação entre a Igreja do povo e o Coro das freiras, instrumento musical com características singulares dentro da organaria ibérica, construído por Dom Manuel Bento Gomes de Herrera, organeiro natural de Valhadolide. Entre meados e o final do século XVIII, as cistercienses, concluída a nova igreja, lançaram-se na segunda campanha de obras de renovação do mosteiro – que terá começado pela construção do chamado “corredor” ou Ala “de Mafra”, o grande corpo situado a sul e nascente, que se prolonga no celeiro que remata o lado sul do “terreiro da rainha” em tom monumental e urbano, com escadaria de dois lances e portal a eixo. Esta nova obra foi feita por artífices vindos do estaleiro de Mafra. Finalmente foi demolido o claustro antigo e deu-se início à obra do claustro novo e da nova sala do capítulo, nos anos de 1780 e seguintes. Quando as guerras liberais interromperam tudo no início do século XIX, só estavam feitas duas alas do claustro articulando capítulo, refeitório e cozinha, a nascente e sul. Em 1886, com a morte da última freira, o Mosteiro foi extinto e todos os seus bens transitaram para a Fazenda Pública. Abre-se, então, uma era de utilizações diversas para este amplo conjunto edificado. Na década de 1960, duas alas – cortina em linguagem arquitectónica antiga acabaram o claustro e ocultaram os vazios, dando origem nomeadamente ao chamado “pátio norte”. O museu de Arouca, um dos melhores acervos regionais de arte sacra do país, guarda muito boa pintura, escultura, mobiliário e prataria dos séculos XVI a XVIII. Guarda ainda um fundo de livros de música, raro e de elevado interesse histórico, constituído por códices manuscritos e impressos litúrgicos e musicais, cuja datação vai dos inícios do século XIII até ao século XIX.
Extraído e adaptado de:
Gomes, Paulo Varela, Guia Mosteiro de Arouca, IPPAR, Lisboa, 2006