Na obra de Charles Baudelaire o Mal aparece como noção constitutiva, que conjuga harmoniosamente uma ética e uma estética de ruptura. Uma revisão de algumas tentativas do pensamento europeu dos séculos XVIII e XIX para dar resposta ao secular “problema do mal” –com menção particular a Leibniz, Kant, Mandeville, De Maistre e Sade–permitir-nos-á distinguir a morfologia do Mal baudelairiano, destacando o seu potencial revolucionário, que explica a ampla ressonância alcançada pela sua obra no século XX, época em que o Mal, nas suas formas mais atrozes, fez parte da experiência dominante do Ocidente e das suas zonas de influência, o que estimulou novas aproximações teóricas a um problema que, mesmo na sua forma secularizada, não deixa de inquietar a nossa consciência. Neste contexto, percebe-se o motivo pelo qual Baudelaire é constantemente recuperado pelo pensamento crítico e pelos movimentos de resistência e de contracultura ocidentais, tal como se torna evidente neste ano em que comemoramos o seu bicentenário.
Mario Campaña (1959) deixou o Equador, seu país natal, em 1992. Vive em Espanha, depois de ter vivido em França, Estados Unidos, México e Grã-Bretanha. Além de uma vasta obra literária, destacando-se a sua Poesía reunida 1988-2018, e títulos como Pájaro de nunca volver (poesia, 2017), Aires de Ellicott City (poesia, 2006), En el próximo mundo (poesia, 2011), Avants ils arrivaient en train/Antes bajaban en tren (relatos, 2012) e Bajo la línea de flotación (romance, 2015), desenvolveu uma obra ensaística no terreno da investigação literária e da filosofia política. É autor de Baudelaire. Juego sin triunfos (biografia, 2006), América Latina. Los próximos doscientos años (ed.) (2010), Necesidad de América (2011), Linaje de malditos. De Sade a Leopoldo María Panero (ensaios biográficos, 2014) e Una sociedad de señores. Dominación moral y democracia (2017), que conclui uma investigação sobre as democracias iniciada oito anos antes. Além destes livros, assinou cinco relevantes antologias de poesia hispano-americana e traduziu Stéphane Mallarmé. A sua obra tem vindo a ser debatida em universidades como a de Salamanca, a Stony Brook University e CUNY Graduate Center, de Nova Iorque. Mario Campaña tem dado conferências em diversas universidades da Europa, Estados Unidos e América Latina. É fundador e director da revista Guaraguao que, desde 1996, divulga a cultura latino-americana.