Construção e reparação naval em madeira no INPCI

Foi, hoje, publicada em Diário da República, a Inscrição da manifestação «Técnicas de construção e reparação naval em madeira de Vila do Conde» no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.

As técnicas de construção e reparação naval em madeira de Vila do Conde são executadas, ainda hoje, segundo as melhores normas de construção e reparação de embarcações em madeira de médio e grande porte. São regras com uma carga evolutiva de vários séculos, referidas desde a Idade Média, abundantemente documentadas desde o século XVI e que atingiram o seu auge nos finais do século XIX. Vila do Conde é hoje um dos poucos locais do mundo onde esta técnica ainda permanece viva e é usada em toda a sua plenitude.

A Inscrição da manifestação «Técnicas de construção e reparação naval em madeira de Vila do Conde» no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial foi hoje publicada em Diário da República.

A construção e reparação naval em madeira constituem um vasto conjunto de técnicas e conhecimentos, distribuídos por vários ofícios e funções que no seu todo formam uma fábrica complexa.
As técnicas de construção e reparação naval em madeira, atualmente persistentes em Vila do Conde, são fruto de uma evolução técnica acumulada pelo saber dos seus mestres e oficiais, transmitido, por via geracional e profissional. O seu exercício encontra-se documentado por mais de cinco séculos, estando a sua prática implícita, em Vila do Conde e Azurara, desde períodos bem mais recuados – pelo menos desde 1258, data das Inquirições Afonsinas, em que a vitalidade de uma economia de base fluvial e marítima sugere a existência, in loco, de atividade de construção naval de suporte.
Os estaleiros de Vila do Conde foram intensamente impulsionados pelas dinâmicas de expansão marítima, desde o século XV, tendo sido uns dos mais dinâmicos do reino, e contribuído para a construção de embarcações para todas as carreiras marítimas ultramarinas, incluindo a carreira da Índia. Desse dinamismo dá conta a existência de uma vasta comunidade com um perfil sociocultural bem demarcado, encontrando-se muitos desses indivíduos e as suas famílias nominalmente identificados e registados desde o século XVI.
Nos estaleiros de Vila do Conde foram desenvolvidas técnicas de construção responsáveis pela fábrica de barcas, pinaças, baixéis, caravelas, zavras, naus, lanchas, lugres, patachos e iates, facto que documenta a capacidade de evolução e de adaptação de técnicas ancestrais a novas tipologias navais e às exigências de novas economias, que incluem no presente as embarcações ligadas à pesca e ao lazer. Em tempos de diminuição e crise do comércio e navegação ultramarinos, Vila do Conde e os seus estaleiros adaptaram-se e mantiveram-se ativos como suporte logístico de outras atividade fluviais e marítimas.
A persistência, em Vila do Conde, do domínio das técnicas ancestrais foi posta à prova, com a construção, nos anos 1990 e 2000, de réplicas de caravelas e naus, embarcações em circulação ou destinadas a programas de musealização, que ligam os estaleiros de Vila do Conde às novas economias do mar, incluindo as indústrias criativas e o turismo cultural.
Fatores como o constrangimento ao desenvolvimento das atividades da pesca e o gradual envelhecimento dos melhores conhecedores das técnicas de construção levarão, porém, num curto espaço de tempo, à consequente incapacidade de resposta e ao desaparecimento dos seus estaleiros. Urge desenvolver ações no sentido de inverter esta tendência, que possibilitem a adequada transmissão deste conhecimento, preservando-o, multiplicando-o e alargando-o a novas gerações. Com isto se pretendem preservar também as práticas socioculturais de uma comunidade profissional e as bases de uma cultura marítima portuguesa, em que a história da cidade de Vila do Conde e da sua comunidade se inserem.
Vila do Conde é ainda detentora de um perfil socioeconómico que evoluiu ao longo dos últimos séculos em função do protagonismo do seu porto marítimo e dos seus estaleiros navais, cuja salvaguarda é fundamental para a preservação e continuidade da sua identidade.

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